Dar a própria vida para proteger a Eucaristia. Pensar nas necessidades do próximo, mais do que em si mesmo. Ser um instrumento para que Deus possa chegar até as pessoas. Todas essas ações foram feitas por São Tarcísio, que não hesitou em instante algum em fazer o seu melhor, por amor a Deus e aos irmãos.
A história de São Tarcísio
Em Roma, nos primeiros séculos da história cristã, não era fácil assumir e professar a fé em Jesus Cristo. Por isso, converter-se à fé católica era praticamente sinônimo de ser ferozmente perseguido e condenado.
Os cristãos da época buscavam meios para se proteger disso, inclusive a Santa Missa era celebrada em total segredo e os encontros aconteciam às escondidas, longe dos olhos dos algozes. Até mesmo passagens subterrâneas foram construídas e criptas eram utilizadas para enterrar os mortos devido ao agravar da situação.
Essa era justamente a época em que São Tarcísio viveu. O imperador era Valeriano, marcado pelo seu ódio a tudo o que se referisse a Jesus e pela crueldade com que o seu exército agia.
Os cristãos eram por ele acossados, presos em locais insalubres e mortos das formas mais violentas, sempre por causa da fé. Em suma, o imperador e seus soldados assistiam ao sofrimento dos cristãos em arenas, como o Coliseu de Roma, fazendo da dor deles um triste show de entretenimento.
Apesar do cenário desolador, os cristãos suportavam tudo com serenidade e aguardavam pelo martírio sem negar a fé em Jesus Cristo um segundo sequer. Um desses grupos de presos cristãos à espera da morte, inclusive sendo composto por bispos e padres, teve o desejo de estar com Jesus, enviando um pedido por carta à comunidade cristã mais próxima para que levassem até eles a Sagrada Eucaristia pela última vez.
A coragem de Tarcísio
A missão era extremamente perigosa, mas Tarcísio, um jovem de apenas 12 anos, e uma das crianças que auxiliavam no altar da Missa, corajosamente se ofereceu para levar o sacramento até os irmãos na fé. O jovem acreditava que, por ser pequeno, despertaria pouca atenção dos soldados do império e chegaria com mais facilidade até o local das prisões.
O bispo reconheceu em Tarcísio alguém com especial zelo pela Eucaristia e confiou ao menino algumas hóstias consagradas, cuidadosamente embrulhadas por um pano e guardadas em uma caixa, oculta por um tecido.
O jovem ouviu as instruções do bispo dizendo para que ele evitasse as ruas lotadas, lembrasse sempre das promessas feitas por Jesus e que protegesse fielmente a Eucaristia. Tarcísio respondeu que preferia morrer a entregar o Senhor, e partiu para a sua missão segurando as hóstias fortemente junto ao peito.
“Como você é bom por me escolher como o seu pequeno mensageiro, Senhor.”
Tarcísio seguiu em sua jornada por uma estrada antiga, conhecida como “Via Ápia”, levando consigo a Eucaristia. Em meio aos passos apressados, sussurrava carinhosamente: “querido Jesus, como eu te amo. Como você é bom em me escolher como seu pequeno mensageiro. Com boa vontade eu sofreria e morreria por você, como essas boas pessoas na prisão. Talvez um dia você me deixe dar minha vida por você também”.
No meio do caminho, Tarcísio se deparou com um grupo de pagãos, perseguidores de cristãos, que o chamaram. No entanto, o jovem disse que não poderia parar para atendê-los por estar ocupado com uma missão.
As pessoas ficaram curiosas com o que seria, principalmente com aquilo que ele levava tão zelosamente junto ao peito e pediram que ele as mostrasse. Contudo, Tarcísio recusou; as pessoas ficaram furiosas e agarraram o menino.
“Jesus, fortalece-me!”, sussurrou o jovem, sendo ouvido por uma das pessoas que logo o acusou “ele é cristão!”, o que deixou os perseguidores ainda mais bravos e curiosos pelo objeto que Tarcísio carregava, pois deduziram que podia ser algum tipo de artefato cristão.
As pessoas começaram a agredir o jovem impiedosamente, com pedras e chutes, mas o menino seguia sem soltar a Eucaristia, afavelmente protegida ao peito, apesar de todo o sofrimento. Um homem que passava perto, quando avisado que o menino era um cristão, foi ao local e desferiu nele um golpe violentíssimo, que deixou Tarcísio muito ferido.
Um soldado viu a cena, foi ao local e repreendeu as pessoas por estarem agredindo um menino. O soldado também era cristão, mas professava sua fé escondido.
Inclusive, reconheceu Tarcísio, pois já esteve com ele nas Missas das catacumbas. Pegando nos braços o jovem e o seu tesouro, os levou até um local seguro.
A morte do pequeno menino
“Estou morrendo, mas mantive Jesus seguro deles. Por favor, leve isso até à prisão, aos nossos irmãos, por mim.”, pediu o jovem. O soldado pegou as hóstias e foi levá-las aos cristãos prisioneiros.
São Tarcísio morreu no local em decorrência dos ferimentos sofridos. Após um tempo, os cristãos foram ao lugar recuperar o seu corpo para dar-lhe uma digna sepultura.
Pouco tempo depois, São Tarcísio foi enterrado nas Catacumbas de Calisto, bem próximas ao local onde sofreu o martírio. Séculos depois, suas relíquias foram transferidas, por ordem do Papa Paulo I, para a Basílica de São Silvestre, a mais solene do Vaticano à época, onde até hoje repousam embaixo do altar principal.
Sua história ficou muito conhecida quando o Papa Dâmaso I escreveu em seu túmulo o seguinte poema:
“Tarcísio estava carregando a Eucaristia, pretendia levá-la aos cristãos presos em Roma.
Quando estava caminhando pelas ruas, foi cercado por pagãos curiosos.
Ele não permitiu a profanação do Sagrado Sacramento.
Não entregou sua carga e preferiu a morte, que veio por pedradas e pauladas.”
Ninguém é pequeno demais para amar intensamente a Deus e São Tarcísio confirmou, com o sacrifício de sua tão jovem vida, que “ninguém tem amor maior do que aquele que dá a vida por seus amigos.” (João 15, 13). Ele morreu defendendo a Eucaristia e o fez com plena consciência. Seu nome foi inscrito no Martirológio Romano e sua festa litúrgica é celebrada no dia 15 de agosto.
Atualmente, São Tarcísio tem a sua devoção largamente difundida no mundo inteiro por ser considerado o padroeiro dos coroinhas, os jovens consagrados ao serviço do altar, e serve como inspiração aos jovens católicos.